"As Esganadas" de Jô Soares
quarta-feira, outubro 17, 2012
"As Esganadas"
Autor: Jô Soares
Editora: Companhia das Letras
262 páginas
Sinopse: Como ator e
comediante, o Jô é um grande fazedor de tipos. Sabe como poucos construir um
personagem, defini-lo com um detalhe e dar-lhe vida com graça e inteligência.
Como autor, essa sua maestria se expande: os tipos são postos no mundo e, mais
do que no mundo, numa trama — e o seu criador (eu quase escrevi Criador, pois
não deixa de ser um trabalho de deus) se solta. Toda a ficção do Jô é feita de
grandes personagens envolvidos em grandes tramas. Os tipos e a trama deste
livro são especialmente engenhosos e através deles o autor nos dá um retrato
saboroso do Rio de Janeiro no fim dos anos 1930 e começo do Estado Novo — o Rio
das vedetes que davam e dos políticos que tomavam, das estrelas do rádio e das
corridas de “baratinhas”. E nesse mundo em ebulição chega uma figura
portuguesa, saída de um poema do Fernando Pessoa, para elucidar o estranho e
terrível caso das gordas desaparecidas que… Mas não vou revelar mais nada. Um dos
prazeres da literatura policial é ir acompanhando o desvendar de uma trama,
levados de revelação a revelação por alguém com a fórmula exata para nos
enlevar — e enredar. No caso do Jô, quem nos guia é um autor que já provou seu
domínio do gênero, e que aqui se supera na perfeita dosagem de invenção, humor
e erudição que nos prende desde a primeira página, desde a epígrafe. Prepare-se
para ser enlevado e enredado, portanto. E prepare-se para outras sensações. Só
posso dizer que a trama deixará você, ao mesmo tempo, horrorizado e com fome. E
que depois da sua leitura os Pastéis de Santa Clara jamais significarão o
mesmo.
Olá pessoal, tudo bem com vocês?!
Hoje a resenha é do livro “As Esganadas”, de Jô Soares.
Porém, antes de começar de fato com a resenha, tenho que contar como me
interessei pela obra. Sempre apreciei o trabalho do Jô, mais especificamente
como apresentador, pois o considero um homem muito inteligente, com capacidade
argumentativa, retórica e humor admiráveis. Entretanto, essa foi a primeira vez
que entrei em contato com o “Jô Soares escritor”. Mesmo com vários títulos já
publicados – alguns de muito sucesso – nunca tinha me interessado pelas
sinopses dos mesmos, logo não conhecia seu estilo de escrita nem tampouco o que
esperar dela. Porém, ao contrário dos outros livros seus, “As Esganadas” chamou
minha atenção desde o princípio, quando o vi falar do livro (ainda em processo
de escrita) em seu programa. Sem aprofundar muito, achei interessante e
tragicômica ele abordar a história de um assassino com obsessão pela figura da
‘mulher gorda’. Afinal, o que esperar de um autor que, de forma caricata, é
associado ao sobrepeso, mas que, em seu livro, é a ‘gorda’ o alvo da
brutalidade assassina?! Isso despertou minha curiosidade e, na primeira oportunidade
que tive, adquiri “As Esganadas”.
A história, narrada em 3ª pessoa, utiliza como contexto
histórico a cidade do Rio de Janeiro da década de 30. É nesse cenário que se
desenvolverá a investigação policial sobre os misteriosos e grotescos
homicídios de mulheres gordas, o famoso “Caso das Esganadas”. A investigação
fica sob responsabilidade do rabugento delegado Mello de Noronha, que conta com
o apoio do policial Calixto, seu braço direito, e com o inspetor português
Tobias Esteves, além de Diana, jovem repórter que faz a cobertura jornalística
do caso. É nas (des)aventuras desses personagens em torno da solução do caso
que o foco da história estará, pois, desde o início, o leitor já conhece a
identidade do assassino e as suas motivações. Apesar do enredo não ocorrer em
função da decifração de pistas para descobrir o psicota, o livro não perde sua
graça. Pelo contrário, achei divertido ver o trabalho dos personagens policiais
com suas deduções já sabendo quem era o responsável pelas mortes.
“Mello Noronha afasta, irritado, a pasta com os escassos
dados colhidos sobre as assassinadas. Dá uma baforada no seu indefectível
charuto Panatela. As buscas nas residências também não resultaram em nada. Os
jornais já batizaram os crimes de “Caso das Esganadas”. Ele arremessa os
jornais no lixo. ‘Algum filho da puta daqui de dentro contou pros jornalistas
que as gordas morreram entupidas’, pensa no auge da ranzinzice.” (pg. 36)
Outra característica marcante do livro é a utilização
frequente de fatos e elementos históricos. O autor relaciona personagens
fictícios com a realidade de forma detalhista, informando marcas de carro,
nomes de ruas, prédios, além de citar nomes de figuras ilustres.
“A convite de Getúlio, ausente ao evento, o embaixador Karl
Ritter senta-se no camarote do presidente da República. Ele é ladeado pelo
temido chefe de polícia do Distrito Federal, capitão Filinto Müller, e por
Lourival Fontes, diretor do Departamento Nacional de Propaganda e Difusão
Cultural.” (pg. 186)
Com certeza, o enriquecimento do texto com esses elementos
favorece a criação da atmosfera da história pelo leitor. Facilmente, me
transportei para o cenário criado pelo autor. Essa característica e o ritmo
rápido da leitura também me fizeram associar o tipo de escrita com as crônicas policiais
ou roteiros cinematográficos/teatrais.
“O efeito euforizante da droga se esgota, e o riso alucinado
transforma-se em apatia. Ele enxerga apalermado sua magra silhueta refletida no
contrabaixo. Num surto paranóico, vê-se distorcido na madeira envernizada.
(...) Ele despenca em prantos no chão, agarrado ao instrumento como se
estivesse abraçando a sua própria mãe.” (pg. 194)
Porém, acredito que
esse mesmo ritmo de escrita prejudicou o final da história que, na minha
opinião, ficou um pouco acelerado e previsível. Esperava mais do desenrolar.
Apesar disso, considero o livro bom (mas um tanto morno às vezes), com leitura
rápida e prazerosa. Porém, acredito que não é o tipo de livro que agradará a
todos, justamente pelas características citadas anteriormente que, para mim,
enriqueceram a história. É um romance tragicômico, de aventura policial, mas
com certo tom de crítica. Quem gosta de Sherlock Holmes, Agatha Christie e
autores do gênero tem mais chances de gostar da leitura.
OBS.: Quem já leu outros livros de Jô Soares, deixe nos
comentários sua opinião sobre eles também.
By Débora
4 comentários
Tenho a maior curiosidade de ler este livro!
ResponderExcluirhttp://vcmaisfashion.blogspot.com.br/
Oi Dé!
ResponderExcluirQue resenha linda, menina! Parabéns, está super bem escrita!
Nunca li nada do Jô, mas, como você, também o acho bem inteligente, então tenho curiosidade de conhecer o trabalho dele como escritor.
Apesar dos pontos negativos, é capaz que eu goste, porque gosto dos livros que você citou. De qualquer forma, não é uma leitura urgente.
Beijão!
Já li Assassinato na Academia Brasileira de Letras e O Xango de Baker Street, e sinceramente, os livros foram o suficiente para me manter longe de As Esganadas.
ResponderExcluirPrimeiro li Assassinato na ABL e achei muito fraco. Resolvi dar mais um chance com O Xango, e tbm foi uma decepção. Admito a criatividade de escrever uma estória do Shrlock em terras brasileiras, mas o livro tbm não me agradou.
Para ser sincero, li ambos os livro há anos, e por isso não lembro exatamente pq não gostei. Mesmo assim, não pretendo ler As Esganadas, embora tenha uma premissa muito interessante.
Abraço,
Alê
alemdacontracapa.blogspot.com
Já vi muito esse livro rondando por aí mas nunca tinha parado pra ler a sinopse. De uma certa forma, me pareceu interessante - Eu mesmo sendo uma pessoa acima do peso! HAHAHAHA - Mas por outro, o fato de já sabermos o assassinato me deu um pouco de medo (Como você mesmo falou, o livro provavelmente ficou morno às vezes, e eu acabaria desempolgando dele rápido).
ResponderExcluirTrinta,
www.escolhendolivros.com.br
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