"Uma Garrafa no mar de Gaza" de Valérie Zenatti
sexta-feira, novembro 29, 2013
"Uma Garrafa no mar de Gaza"
Autora: Valérie Zenatti
Tradução: Julia da Rosa Simões
Editora: Seguinte (selo Companhia das Letras)
127 páginas
Sinopse: Um homem-bomba se explodiu dentro de um café em Jerusalém. Seis corpos foram encontrados. Uma garota, que se casaria naquele dia, morreu junto com o pai "algumas horas antes de vestir seu lindo vestido branco". E Tal não consegue parar de pensar em tudo isso. Tal é uma israelense que, como toda garota de dezessete anos, vive suas primeiras experiências - o primeiro grande amor, as primeiras escolhas profissionais e também o primeiro atentado. Depois de vivenciar esse momento trágico, ela escreve uma carta a um palestino imaginário, coloca em uma garrafa e pede ao irmão, que presta o serviço militar perto de Gaza, para lançá-la ao mar. Algumas semanas depois, recebe a resposta de um certo "Gazaman"...
Olá pessoal, tudo bem?!
Hoje a resenha é do livro “Uma Garrafa no mar de Gaza”, da
autora Valérie Zenatti. Antes mesmo de
tratar sobre o que a obra aborda, posso afirmar que, se vocês me pedissem para
escolher um livro para recomendar, com certeza, esse seria o título que eu sugeriria.
Sem dúvida alguma, “Uma Garrafa no mar de Gaza” foi uma dos melhores livros que
li no ano e entrou para a minha lista de favoritos. A história de Tal e Naim me deixou marcas, me
fez refletir e questionar certos preconceitos existentes no mundo.
Não é novidade para ninguém a tensa relação entre dois
países vizinhos, Israel e Palestina, que fez surgir a conhecida Faixa de Gaza.
A região, tumultuada por conflitos religiosos e políticos, faz parte das
páginas de jornais por atentados, terrorismo, mísseis, homens-bomba, animosidades
e diversas tentativas de acordos de paz entre os dois povos fracassadas. Porém,
a frieza das notícias e dos fatos torna todas as pessoas que lá vivem partes de
um coletivo (palestinos de um lado e israelenses do outro), não lhes dando rosto
e não as distinguindo em suas individualidades, histórias e dramas.
“Uma Garrafa no mar de Gaza” faz justamente isso, dá vida às
pessoas separadas pelo conflito. Na história contada pela autora Zenatti, o
conflito ganha individualidade pelas vidas de Tal e Naim. Tal, uma garota de 17
anos, israelense, judia e defensora, assim como seus pais, da paz entre os dois
povos. Naim, um garoto de 20 anos, um tanto amargo, revoltado e desencantado
com a possibilidade da paz ou de uma vida melhor. A história entre eles começa
quando Tal decide se comunicar com o outro lado da Faixa de Gaza e, através de
uma garrafa com um bilhete dentro, conta a sua vontade de conhecer a vida na
Palestina e deixa seu email para que, quem encontre a garrafa, possa
respondê-la. Quando Tal imagina seu futuro correspondente, ela sempre pensa em
uma garota como ela, com a mesma visão de que a paz é possível.
Porém, para sua
surpresa, quem encontra a garrafa é Naim que, a princípio, responde a carta
pelo simples prazer de desabafar seu cansaço e ódio, se mostrando negativo às
intenções de Tal. Mesma sendo zombada da sua crença na paz, ela não desiste e
segue respondendo a Naim, despertando sua curiosidade. Pouco a pouco, Naim
baixa suas defesas e passa a estabelecer contato com Tal.
"Pronto. Eu logo me irrito quando penso demais, mas não quero parar de pensar. Minha cabeça é o único lugar onde nenhum soldado das Forças de Defesa de Israel, nenhum sujeito do Hamas, nem meu pai nem minha mãe podem entrar. Minha cabeça é minha casa, minha única casa, pequena demais para tudo o que coloco lá dentro, e foi por isso que comecei a escrever, há muitos anos, não esperei a pequena e mimada Tal de Jerusalém para começar. Eu escrevo e depois queimo, rasgo, molho os papéis e coloco na patente, tenho muito medo de que alguém encontre. Mas pelo menos me faz bem, me alivia um pouco. Há gente demais que eu detesto, gente demais que me impede de viver, e placas vermelhas inexistentes, mas que vejo por toda parte. Nelas, está escrito: TUDO É PROIBIDO." (Naim, pg. 32)
Ao longo dos capítulos, somos apresentados aos emails trocados entre ambos e percebemos as aflições e preocupações existenciais dos dois jovens. Por um lado, conhecemos dilemas universais, como trabalho, estudo e família, mas, por outro, questões resultantes dos conflitos complexos que presenciam, como insegurança, intolerância e preconceitos. As mensagens trocadas entre eles retratam de forma humana o contexto político-social em que se inserem, fato que aproxima o leitor como testemunha das suas realidades. Sob seus olhos, conhecemos suas alegrias, expectativas alegrias, desejos, decepções, desesperos, desencantamentos, suas semelhanças e diferenças.
"Ao ler o que você escreveu, me senti terrivelmente impotente. Eu gostaria de poder encontrar uma fórmula mágica para que você ganhasse um Estado como eu tenho o meu, e para que vivêssemos em paz. Tranquilos. Proibindo as informações, as notícias, os boletins especiais. 'Os rádios e as televisões ligados constantemente', sei bem do que se trata. É ao mesmo tempo um zumbido e um martelar, nos sentimos prisioneiros das vozes e das imagens." (Tal, pg. 69)
Acredito que a capacidade de passar de forma tão natural e
sincera os sentimentos dos protagonistas do livro se deva ao fato da autora Valérie
Zenatti os ter vivido durante sua adolescência em Israel. Judia, mas nascida na
França, Valérie sentiu o choque cultural e experimentou o modo de pensar e
viver da região. Sob a ótica de dois personagens, que trocam mensagens através
de emails, a autora aproxima o leitor da realidade complexa que envolve Israel
e Palestina. Isso fica ainda mais evidente com a narração feita em primeira
pessoa e com a intercalação dos capítulos e pontos de vista de Naim e Tal. O
resultado é um livro leve, tocante e fluente, apesar do tema dramático abordado.
Enfim, para falar mais sobre o livro, teria que algum spoiler,
o que não é minha intenção. Acredito que
a leitura dele seja a melhor forma de conhecê-lo mas, mais uma vez, repito que
indico esse título. Ah, para quem não sabe, “Uma Garrafa no mar de Gaza” teve
adaptação para o cinema e os atores são quem ilustram a capa da obra literária.
A seguir, deixo o trailer do filme para vocês:
By Débora
6 comentários
Tanto o livro como o filme são ótimos e valem muito a pena. É legal conferir os dois, pois não são exatamente iguais, especialmente no desfecho.
ResponderExcluirE, como você, eu também recomendaria esse livro, com certeza.
Um beijo, Livro Lab
É verdade, Aline, entre o livro e o filme há sim algumas diferenças! Ainda não assisti ao filme, mas adorei a leitura!
ExcluirBjos
Já ouvi falarem bastante sobre esse livro, e sua resenha me deixou mais curiosa ainda em lê-lo! Parece ser uma história bem diferente e marcante :D
ResponderExcluirxx Carol
http://hangoverat16.blogspot.com.br/
Que bom que despertou tua curiosidade, Carol! É uma ótima leitura :)
ExcluirBjos
Não conheço qual a real frequência desse assunto em livros literários, mas até onde eu sei, não é muito comum. Realmente, é uma questão muito interessante e pouco abordada ainda. Como você mencionou no início, palestinos e judeus perdem seus rostos nas notícias que recebemos a respeito de seus conflitos, e isso é bem triste.
ResponderExcluirGostaria muito de ler. O que é isso, pouco mais de 100 páginas só? É muito pequeno!
Beijos.
Mariana Borges.
Tijolinhos de Papel
É uma leitura bem rápida mesmo, Mariana, mas é o tipo de história que, apesar de curta, é intensa e marca bastante! Super recomendo!
ExcluirBjos ;)
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